segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O processo da leitura

    Shaywitz (2006) conceitua o processo de leitura em decodificação - reconhecimento imediato das palavras e na compreensão e significado destas palavras. 
       Vellutino et al, 2004 acreditam que a leitura depende da criança entender a convenção da escrita. 
      Na aquisição da leitura pode-se referenciar duas teorias: Dentre outros autores, destaca-se Smith (1988) e Goodman (1989) que são adeptos às teorias whole-language approaches (ler através das informações do contexto). Para estes teóricos a criança aprende a ler pelos constantes contatos e na diversidade de tipos de leitura. Segundo esta linha, a criança consegue ler ao estabelecer a relação da palavra com o léxico mental (parte do cérebro que armazena expressões prontas, frases fixas e semi-fixas, palavras isoladas que são utilizadas com maior frequência em nossa língua) buscando sua forma correspondente na sua memória. 
     E a "code-oriented" que é a de identificar palavras isoladas. Vellutino (1991) defende o processo das partes ao todo; a criança lê palavras isoladas, não considerando o processo de compreensão. Se faz necessário decodificar as palavras novas, quando uma palavra não pode ser identificada por associação direta (léxico mental), portanto a aprendizagem da leitura ocorre em um processo botton-up, onde se lê palavras sem preocupar-se com o contexto.
       

domingo, 21 de outubro de 2012

Revendo conceitos... Dificuldade X Distúrbio

     Ferreiro (2011) acredita que a escola "se perdeu", não soube lidar com as diferenças desde que se tornou uma "escola para todos" e observa que a falta de apoio e compreensão ao professor é a causa desta perda.
    Bona (2003, p.16) acredita que "toda prática educativa é expressão de determinada concepção ou teoria do conhecimento (...) é necessário que se pense em questões que permitam compreender como os sujeitos conhecem como se apropriam do conhecimento". 
    Realmente os professores necessitam de apoio, de compreensão e de respaldo técnico para atender as demandas. E para isto não acredito que fixar em uma teoria irá beneficiar a criança que apresenta dificuldade. Tem-se que responder à necessidade da criança para que ela se aproprie do conhecimento de forma mais efetiva. 
   E como saber a diferença de uma dificuldade e de um distúrbio para responder satisfatoriamente à necessidade da criança?
    Capellini (2004) traz a seguinte caracterização na diferença entre distúrbio e dificuldade de aprendizagem: o distúrbio se refere a conteúdos pedagógicos, métodos de ensino, ao ambiente físico e social da escola em um contexto mais global da atividade escolar. Já o distúrbio é identificado por componentes neurológicos que resulta em um insucesso na escrita, leitura e em cálculos matemáticos.
    Ciasca (2004) aponta que a dificuldade (considerada distúrbio) é de ordem e origem pedagógica  de caráter funcional, uma disfunção do Sistema Nervoso Central (SNC), relacionada a uma "falha" no processo de aquisição ou no desenvolvimento. Está relacionado a uma incapacidade.
   Portanto, se a criança apresenta um distúrbio, esse deve ser tratado de forma diferenciada e que venha de encontro àquela necessidade, que é a de auxiliar na incapacidade. É muito diferente de "preguiça", desleixo ou uma dificuldade pedagógica e por ser diferente, precisa também ser tratada de forma diferenciada! 
   Essa é a diferença quando se trata de um método de alfabetização para crianças que respondem de forma satisfatória e para àquelas que necessitam de um método de reestruturação para uma reabilitação. 
   Estudos sobre a função cerebral mostram a dificuldade como um déficit nos circuitos neurais durante o processamento fonológico (Lois, 2008). 
   Fawcett et al. 2001 caracteriza o distúrbio da leitura e escrita como sendo uma dificuldade na decodificação de palavras soltas, refletindo uma inadequação do processamento fonológico. 
  Estudiosos como Johnson e Myklebust (1967), Mason e Blevkburn (1970), Boder (1971), Benton e Pearl (1977) classificam esse distúrbio como uma dificuldade audiofonológica com alteração na articulação. Galaburda e Cestmick (2003) trazem uma contribuição mais atual caracterizando os problemas ao se ler pseudopalavras (palavras sem significado no idioma mas, pronunciáveis) apresentam problemas em ler palavras irregulares onde a pronúncia é diferente de como é escrita, denominando de dislexia fonológica.
  O método Panlexia traz exercícios com pseudopalavras, com palavras irregulares e de forma estruturada, trabalhando a consciência fonológica a fim de realizar as conexões necessárias e estimular de forma adequada visando amenizar e até superar aquela necessidade. 
     Penso que essas reflexões ajudam no entendimento da Panlexia Plus na abordagem psicopedagógica! 
      Tendo interesse em conhecer e aplicar o programa, só chamar os conhecidos interessados também e iremos em sua cidade realizar a formação. Contatos pelo email: alucchin@gmail.com


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Panlexia e a função social da escrita

     Tenho uma reflexão a compartilhar sobre a função social da escrita e o método da Pamela Kvilekval. Na época da formação para os multiplicadores do método, muitos questionamentos foram realizados sobre a concepção de um método de estruturação linguística e a função social da escrita.
     Para Vygotsky devemos "ensinar às crianças a linguagem escrita e não apenas a escrita das letras". Será que se ele olhasse o método da Pamela ele teria uma síncope? Ela ensina as letras e como elas são articuladas. 
     Cagliari (1989) condena a escola apontando-a como responsável pela perda da capacidade de organização de elementos para a linguagem porque a escola ensina o português tendo por base a escrita ortográfica. 
     Ele também condena o ensino das famílias silábicas, a associação de letras para a composição de palavras e frases afirmando que esse tipo de aprendizagem não garante a aprendizagem da leitura e da escrita. 
    A base do método da Pamela seria fazer ao individuo entender e tomar consciência de como o fonema é produzido e escrito, de forma estruturada. Os resultados do método da Pamela mostram que é garantida essa aprendizagem, inclusive nos estudos do Dr. Jesse Williams Grimes que desenvolveu o programa com alunos das escolas públicas de Newton. 
      Esse método não ensina as famílias silábicas, é um programa de linguística estruturada que mantém uma sequência na apresentação das palavras e pseudopalavras apresentadas.
     Sabe-se que é de extrema importância a compreensão de como é o funcionamento da língua e o seu uso no meio social e não apenas a decifração do código. Pamela nos disse que comprovou cientificamente o sucesso da sua metodologia porque realizavam a ressonância antes e depois da aplicação do seu método. 

sábado, 13 de outubro de 2012

Instrumentos de avaliação do método Panlexia Plus

      O método da Pamela Kvilekval, em 2004 quando ela esteve a primeira vez no Brasil, chamava-se Panlexia, ela tinha como parceria Mônica Luczinsky, a qual traduziu pela primeira vez todo o seu método para o Português e por situações particulares desfizeram a parceria e Pamela recebeu o apoio da pedagoga Maria Cristina Bromberg, a qual atualizou o método e foi renomeado para Panlexia Plus. Ambos apresentavam as mesmas características, contendo as listas de palavras, frases, histórias e a lista do Jogo de Troca de Letras, porém agora o material foi revisado e editado pela Editora Íthala. A orientação dada pelo Instituto da Pamela, aqui no Brasil, é que este material só pode ser adquirido após apresentação do certificado de formação do método, garantindo assim a qualidade de sua aplicação. O método também traz três instrumentos avaliativos que servem de parâmetro para sabermos como está o nível de aquisição da leitura e escrita do indivíduo que apresenta dificuldades nesta área. São eles:
     O Diagnostico Lingüístico que é para ser aplicado à partir dos 7 anos, consiste em analisar a leitura por meio de letras isoladas, silabas e palavras, as quais, segundo a Pamela, são muito difíceis para os disléxicos lerem. O ditado é de sete frases simples, onde a criança deverá repetir cada frase ouvida antes de escrevê-la. 
     O Teste Fonológico pode ser aplicado à partir dos 5 anos, consiste em identificar o número de sons ouvidos e associá-los às cores dos cubos (blocos coloridos confeccionados em madeira). Este é tabulado e sugere uma idade fonológica variando entre 5 a 12 anos em diante.
     No Screening de Leitura a criança terá de ler o mais rápido possível quatro colunas de palavras. A primeira inicia com letras isoladas, depois palavras simples, palavras com encontros consonantais e dígrafos e na última coluna constam as palavras mais complexas apresentando maiores dificuldades ortográficas, palavras mais elaboradas. 
     Esta bateria de testes é aplicada no início do atendimento. 
    Após vinte e cinco sessões eu comecei a reaplicar esses instrumentos nas crianças atendidas na clínica, a fim de pesquisar verificar o andamento do processo. Foi quando me surpreendi ao perceber que havia clientes que chegavam a melhorar até 75% do que demonstravam antes de receber o atendimento. Realmente, o método dava resultado.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Percepção dos Sons

 Realizamos vários questionamentos em relação ao método da Pamela, por ele não ser contextualizado, parecia que estávamos retrocedendo ao oferecer uma forma "mecânica" de reeducação. Ela ressaltou que havia três maneiras de alfabetizar:
1.    Método Fônico
2.    Méodo Global
3.    Método Linguístico estruturado
   Pamela Kvilekval disse que na Itália e EUA utilizaram o método global e foi catastrófico. Pararam. Este programa começou como terapêutico e começou com a verificação de como era realizada a identificação dos sons, de como as crianças emitiam o som, reconheciam e elaboravam o som ao ler uma determinada palavra. Em 1968 Pamela viu uma demonstração desse método, retornou para Andover e juntamente com Dr. Grimes pesquisaram e observaram que essa forma era o que a criança disléxica precisava. Portanto, eles necessitavam de um método estruturado e que trabalhasse com a consciência fonológica, surgindo a Panlexia,
    A criança com déficit perceptivo necessita sentir a diferença do som no seu corpo, como faz a sua boca, com a língua, com sua mão... Pamela solicita inclusive, que seja utilizado o espelho nas sessões de reeducação para facilitar a criança a desenvolver melhor sua percepção e o reconhecimento de como ela emite os sons. Pamela trabalha com a decodificação, com a soletração e a percepção de como são emitidos os sons que compõe as palavras. 
  Qual é o som que para pronunciá-lo fecha a boca? Como é a posição da língua em tal som... Pamela ressaltou que temos que oferecer às crianças uma grande quantidade de exercícios para elas praticarem. Para que elas pratiquem muito e se auto-desafiem.
  Primeiro trabalha-se com os sons bem diferentes para só depois passar para os similares porque estes podem ser confundidos. Ela orientou que pode-se dizer, por exemplo “d” – a língua toca em todo o céu da boca. A criança precisa ver onde a língua está, perceber o movimento realizado e reconhecer as diferenças fonéticas. O “r” também toca a língua no céu da boca. Então pergunta-se: qual é o som que vibra ao pronunciar “r” e  “d” ? Igual? Diferente? Qual produz mais ar”? Assim, a criança vai percebendo, vai tomando consciência de como ela articula os sons. seguindo o roteiro das atividades que Pamela propõe, de forma estruturada, oferecendo naquela sequência ela percebeu que as crianças aprendem mais rapidamente.
São oferecidos exercícios que seguem uma estrutura com palavras conhecidas e pseudopalavras que as crianças apresentam dificuldades em lê-las (segundo a sua experiência). Em seguida oferece-se uma frase para ser lida. No ditado sempre a criança tem de repetir a palavra ouvida para perceber como ela está falando, para posteriormente escrevê-la. Palavras e frase curtas.
    Para Pamela, a criança que consegue decodificar qualquer sílaba consegue ser uma boa leitora. A criança que não consegue ler essas sílabas sem sentido não vai conseguir decodificar as palavras que contém essas sílabas no momento da leitura. Pamela citou que a bula de remédio é um bom exemplo para mostrar que a pessoa sendo uma boa leitora, mesmo que não tenha sentido para ela aquilo que está escrito, ela consegue ler. Não que ela tenha entendido o conteúdo da bula, mas ela leu a bula. 
      O método da Pamela é um programa utilizado para as crianças que apresentam dificuldades específicas. Segundo as suas pesquisas, é necessário realizar as conexões para que as crianças possam transpor esse obstáculo que as impedem de ler e comecem a ter sucesso, aumentando seu rendimento.
     No início da aplicação do método fui um tanto cética, porém segui à risca, conforme todas suas orientações e tudo que preconizava o método. Depois de aplicá-lo em um bom número de clientes e verificar a rapidez com que eles começavam a realizar a leitura com tanta facilidade, comecei a acreditar na eficiência da Panlexia e muitas crianças se beneficiar e pararam de sofrer diante das suas limitações. Há soluções remediativas. O método funciona!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Explicações sobre o Método de Pamela Kvilekval


No curso de formação de multiplicadores da metodologia da Pamela Kvilekval, diante do que já havia sido exposto (ver postagens anteriores) uma participante levantou a seguinte questão: - Na verdade para trabalhar na alfabetização com o disléxico seria estimular mais a conexão auditiva e viso-motora. É isso?
Pamela respondeu que o problema "real" dos disléxicos é que eles nunca fazem a conexão tríplice: quando realiza-se uma leitura, você vê a letra; escuta o som da letra e você sente como você está falando a letra.
Pamela disse que existe várias maneiras de auxiliar a criança a fazer a distinção. Aprendendo uma dessas maneiras, automaticamente a criança já vai saber a outra. Ela exemplificou dizendo que quando eu sei que essa é a minha mão Direita por ser mais forte, por realizar várias coisas com a mão direita com facilidade e agilidade, então a outra mão deve ser a esquerda. Ao fortalecer a aprendizagem de uma letra, eu me aproprio dela e saberei que as outras letras não são aquela. Não é "b" porque não sinto o som como em "b", então, é "d'.
Ocorre uma dificuldade muito grande em aprender (e aplicar) as palavras que levam dígrafos porque duas letras formam um som. O que na realidade elas irão fazer é um novo som. Seguindo a metodologia da Pamela, devido a essa dificuldade, os dígrafos são vistos mais à frente e ela orienta que se aparecer  ss ou ç não há problema porque estaremos treinando inicialmente só o som. No primeiro nível temos que trabalhar palavras que fazem somente um som e as crianças irão automatizando, elas se adaptam a esse sistema. 
Ocorreu uma dúvida apontada por uma participante que é disléxica. Ela queixou-se da dificuldade em entender o "ç/ss" e que era uma dúvida eterna dela, por ser muito difícil fazer a distinção e houve muita discussão à respeito. Pamela  esclareceu que quando aparecer a palavra eta irá para a memória visual, (aquela parte do cérebro em que o disléxico usa sem usar decodificação e ele não consegue ler), então, ao estimular a criança de maneira correta facilitará o processo. Usando esse método com muita prática, irá acionar primeiro a parte posterior do cérebro para depois disso, enviar para a memória visual. E ela afirmou que esses exercícios que são realizados em seu método, favorecem a mielinização, e que é cientificamente comprovado. Antes de ser aplicado o método da Pamela, ela contou que as crianças que utilizaram o método em inglês, eram submetidas primeiramente a uma ressonância magnética funcional e após serem expostos por algumas semanas com esse tratamento, elas já conseguiam identificar as decodificações, e verificaram quais as áreas que foram sendo ativadas. Portanto, finalizou a questão dizendo que na realidade quando chega-se no "ç" terão que associar o significado, e que irão memorizar e não irão errar mais 
Pamela também nos mostrou a importância da Soletração. Em inglês existe aulas de soletração diariamente durante todo o ensino fundamental e nas Sextas-feiras ocorre um teste com intuito de checar o progresso deste aprendizado. Muitas vezes as professoras vêem a ela para ensinar a realizar a soletração. São mestres, graduados e depois de um treino elas dizem que elas próprias melhoraram e são professores que aprenderam também a soletrar. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Importância da pronúncia das letras

Qual a diferença de consoantes e vogais? 

Pamela Kvilekval explicou que as vogais são criadas pela vibração das cordas vogais e que são diferentes. Não se pode ver e nem dizer às crianças como fazê-las e muito menos como ensina-las. As consoantes são mais fáceis de ver como são emitidas, é possível sentir e fazer a criança sentir, porque visualiza-se o movimento dos lábios, da língua e pode-se sentir até na garganta como, por exemplo no som da letra "g".Pamela solicitou que falássemos bem devagar o som de cada consoante e observássemos o movimento que realizávamos ao emiti-los. Convido o caro leitor, a fazer o mesmo, emitir o som das consoantes: "b", "c" (na boca, /k/ não como o som de ce), "d", "f", "g" (na garganta), "j", "l", "m", "n", "p", "q", "r", "s", "t", "v", "x" e "z". As crianças fazem confusão com as consoantes surdas e sonoras, porque às vezes é vozeado e às vezes não.
O "d" é vozeado e o "t" não. São coisas que pode sentir, por exemplo, colocando uma folha na frente da boca e perceber que se movimenta. A maioria das crianças trocam algumas ou todas as palavras da lista do grupo de vozeado e não vozeado e isso ocorre porque não percebem a diferença na pronúncia  e nem como estão pronunciando. 
Ela ressaltou que o "c" é um pouco mais difícil porque não se pode ver a boca movimentar. Percebe-se por meio da sensação que o "c" (/k/) produz. É preciso repetir várias vezes para identificar, sentir na boca, e assim é mais fácil de saber quando se diz o c. Nos encontros de formação do método uma fonoaudióloga está presente para auxiliar nas dúvidas em relação a emissão dos sons.
Temos que entender o que esta percepção significa de maneira geral.
As crianças disléxicas falam adequadamente, a não ser as exceções que tenham um problema articulatório, mas, geralmente mesmo não lendo adequadamente, elas falam corretamente. O que ocorre é que os disléxicos não realizam a conexão correta e não se auto corrigem, isto é, a boca deles não está dando a informação para que eles percebam como ocorre a emissão, então, elas não reconhecem a diferença do som. Geralmente elas escrevem o que elas "escutaram" e nem sempre "ouvem" de maneira correta aquilo que foi falado. Com as crianças que possuem dificuldade de leitura e escrita,  temos de trabalhar a sensibilidade, a percepção dos movimentos na boca.
Outra questão muito comum entre os disléxicos é de eles colocarem a consoante na frente da vogal. Por exemplo, na palavra ela – leem lea, porque a consoante é mais óbvia de sentir. Pamela enfatizou que no método global não é dada a importância para a ordem das letras. não é ensinado a seqüência das letras e as crianças que tem essa dificuldade se acostumam a ler assim (trocado), ou leem muito devagar tentando pronunciar letra por letra. Quando não se tem dificuldade, elas conseguem por meio do método global, mas estamos falando de crianças que não obtém sucesso nesta área específica. E  com elas a reeducação tem de ser diferenciada.
Algumas vezes ocorre que as crianças se corrigem, mas sabemos que pode ser porque alertamos (como é que você leu?) ou pela fisionomia de quem está ouvindo-a ler, ou como Pamela já havia comentado que elas acabam por "chutar" a palavra na sentença principalmente se tem boa memória.
Outra situação comum que ocorre com os disléxicos é que eles podem  não ler a última letra da palavra. Isso era um mistério para Pamela, ela  perguntava o por quê de eles omitirem a última letra e a resposta era sempre a mesma: - Simplesmente não sei. 
Pamela disse que é muito importante perguntar freqüentemente para a criança com dificuldade, o que acontece com ela, como e o que ela percebe no momento em que ela está lendo, se interessar e colher todas as informações de como ela está processando as informações que lhe são absorvidas. Pamela explicou que no italiano, a última letra determina se é masculino, feminino ou plural, portanto as crianças italianas se fixam na última consoante, essa situação não ocorre com o inglês e português, é diferente. Ela mostrou também como ocorre na língua inglesa essas omissões e pudemos constatar, partindo da experiência dela que algumas dificuldades são características dos disléxicos, mesmo  sendo na Inglaterra, EUA, Itália e...Brasil.
Com aquela fisionomia tenra, amável e de forma muito humilde Pamela nos falou que há dez anos atrás existia mais mistérios para ela, do que existe hoje, mas ainda há outros mistérios a desvendar. E ela enfatizou que talvez em pouco tempo descobriremos se as idéias dela estarão certas ou não... Para ela é importante saber o que você não sabe tanto quanto aquilo que você sabe. Descobrir aquilo que você está precisando saber, é desvendar os mistérios. Muito interessante essa colocação, não? 
Sabe-se também, que todos os disléxicos fazem a inversão do b/d e é, segundo a Pamela, é a dificuldade mais difícil de corrigir. Muitas crianças no seu programa de reeducação, mesmo no terceiro nível do método, mesmo indo muito bem, já lendo com fluência ainda trocam o b/d. Temos sempre que ajudar a perceber a diferença. Algumas vezes ela escreve o d maiúsculo e minúsculo na folha, às vezes no quadro, às vezes na mesa, às vezes na mão da criança, porque isso tem que entrar na mente e fazer a criança sentir de diversas formas e com seu corpo. 
Uma participante disse que escrevia uma cor diferente na palavra, por  ex.: debate. O "d" era de outra cor para chamar a atenção. Pamela respondeu que não havia uma conexão real entre a cor e a letra e sim somente um estímulo. Ela disse que as conexões reais é a maneira como você sente, a maneira como você ouve e como você utiliza a conexão motora quando escreve, não como aparece a letra. A outra maneira, e bem tradicional é a de repetir ddddd, quantas vezes possíveis. Essas sim, segundo a Pamela, são as conexões reais.

sábado, 6 de outubro de 2012

Técnica Cloze


Uma das participantes do curso fez uma pergunta muito comum à Pamela: Por que as crianças podem ler algumas vezes e depois não conseguem?
Pamela respondeu que eles realmente não leram,o “chute” é que foi bom!
Se na frase aquela palavra "escolhida" faz sentido, eles vão dizer a palavra sem lê-la, acertam, mas não que elas tenham lido a palavra. Ela ressaltou que existem testes de leitura que medem justamente isso. O Cloze test, por exemplo, há a sentença e um espaço em branco para colocar a palavra que completaria a frase, dando-lhe um sentido. Sabe-se que podem “chutar” a palavra mesmo que não estejam vendo a palavra. E isso é o que a maioria das vezes os disléxicos fazem, apenas arriscam falar a palavra que caberia naquela frase.
Pamela mencionou sobre o teste Cloze, mas para quem não tem conhecimento sobre ele, ele serve para avaliar o nível funcional da compreensão da leitura, com um instrumento específico surgido do próprio texto (Condemarin et al, 1994).
No início da clínica psicopedagógica eu apliquei muito a técnica Cloze, porque esta técnica favorecia a atenção, facilitava a compreensão da leitura, evitava o risco da adivinhação, aumentava a motivação pela leitura devido aos elementos lúdicos e desafiadores que esta técnica possui. Esta técnica também desenvolvia habilidades tais como: vocabulário, expressão oral, julgamento,apreciação, pensamento lógico, memorização e outros. 
As fichas de compreensão iniciavam com um texto curto, em seguida apresentavam atividades diferenciadas e bastante variadas e por último o mesmo texto aparecia com as lacunas para serem preenchidas.
Exemplo: Ficha nº 13:
Que Lugar é Este?

Adivinhe em que lugar acontece tudo isto:
Há gelo e neve aos montes. Faz muito frio. No inverno, o mar fica congelado. No verão, o gelo do mar derrete e se formam blocos.
Nessa região vivem pinguins e focas.
No inverno, as noites são muito longas e há grandes tempestade de vento e neve.
Pouquíssimas pessoas vivem nessa parte do mundo.
(61 palavras)
Atividades:
1. Escreva o nome do lugar descrito:
2. Forme uma oração com as palavras: tempestade - derreter
3. Selecione o animal que vive na selva (S) e (P) se for do pólo
4. Responda: 
a) De que você gosta mais: do frio ou do calor. Por
que? b) Por que há poucos habitantes nessa parte do mundo? c) Faça uma lista das roupas que você teria de usar se fosse morar no pólo. 
5. Palavras cruzadas (4 desenhos)           
6. Desenhe coisas frias e coisas quentes

Complete o texto:
Adivinhe em que lugar acontece tudo isto:
Há gelo e ________ aos montes. Faz muito frio. No _______, o mar fica congelado. _______ pinguins e focas.
No ________, as noites são muito ________ e há grandes tempestade de ______ e neve.
Pouquíssimas pessoas vivem nessa parte do mundo.
Omissões: 9
Número de respostas corretas: ________
% de respostas corretas: ____________


Fonte: Alliende, F.; Condemarin, M.; Chadwick, M.; Milicic, N. (1992) Compreensión de la lectura 1: Fichas para el desarollo de la compreensión de la lectura, destinadas a ninos de 7 a 9 anos. (Jonas Pereira dos Santos. Trad.) Campinas. São Paulo: Editorial André Bellos.

Naquela época observei muitos avanços nas crianças que apresentavam dificuldade de aprendizagem e se beneficiavam também quando aplicava essa técnica. Complementava com outras atividades como por exemplo, imitar corporalmente os animais, a tempestade e o gelo derretendo; desenhava animais em lâminas de diferentes texturas e oferecia para realizar alinhavo, recorte, quebra-cabeças; realizava jogos de classificação com os animais com mudanças de critérios e muitas outras. Os textos e as atividades oferecidas nesse material  proporcionava criar outras atividades variadas.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Aquisição da Leitura

   No curso da Pamela Kvilekval, como eu gravei toda a sua fala, claro que com sua autorização, transcrevi e montei um acervo das informações que ela repassou no curso de formação de multiplicadores, que disponibilizarei aqui:
    Após as devidas apresentações, Pamela iniciou sua fala contando que levou um ano e meio para elaborar o método para o português. Disse que temos de um lado o método na língua inglesa, que inicialmente foi difícil e do outro lado na língua italiana, que foi muito mais fácil. O Português estaria no meio destas duas línguas. Ressaltou que o italiano, é uma língua transparente porque, por exemplo, o som p falado é como se escreve e o inglês é "opaco" não se escreve como fala. Há muitas palavras em que a letra muda de som em relação a anterior ou posterior, ela denomina esse fato de influência. Sorridente disse que não tinha certeza se tinha aprendido todo Português e que a estrutura da língua tem que ser aprendida e às vezes é difícil para a pessoa que fala a língua, saber que essas diferenças estruturais acontecem.  
   Ela mencionou que uma das maiores dificuldades que o disléxico tem é justamente a de associar a letra ao som que deve ser feito. Disse que os estudos mostram que as crianças pequenas que conseguem reconhecer qualquer tipo de sílaba vão ficar excelentes leitores mais tarde. Isso é lógico porque inicialmente quando você tem que ler uma palavra você olha a seqüência das letras e a seqüência das sílabas, posteriormente é automatizada. ela acredita que as crianças que são ensinadas no método global podem desenvolver até um certo ponto sem dificuldade, porém, elas poderão apresentar muita dificuldade na estrutura e em determinadas características específicas no reconhecimento das novas palavras. 
    Por meio da ressonância magnética e vários outros tipos de neuroimagem é possível observar como o cérebro funciona quando se está realizando uma determinada atividade, podendo-se ver a área ativada. Ressaltou que estava construindo novos caminhos no cérebro e que no início de suas pesquisas ela pensava que estas experiências eram só "achismos" e que agora percebe que são verdades. Cada parte de informações é transmitida pelos neurônios a medida que uma conexão é feita ocorre a mielinização e a informação é passada de um neurônio para outro. 
    Ela exemplificou que esse caminho que ninguém passou ainda, é como uma trilha de montanha que, quanto mais for utilizada vai se tornando um largo caminho e os carros poderão percorrer rapidamente. O "trânsito" flui melhor porque esse caminho foi usado com bastante frequência. Quando faz-se a conexão do som e da letra, está lançando mão de todos os neurônios que foram utilizados tornando o percurso mais fácil.  
   Ela mostrou que as listas de palavras vão servir para o aluno traçar o caminho da leitura mais largo, isto é, de fácil acesso. Por exemplo, a criança lê as seguintes palavras: "cala, mala, fala, bala", ... Ela está automatizando esta estrutura de sons - ca, ma, fa, ba, portanto andando rapidamente ao invés de estar andando a pé em um caminho não trilhado. 
    A nossa língua é fonética e todas as linguagens que são foneticamente estruturadas foi associado um símbolo para os sons que são falados. Comentou que a linguagem não é algo natural, que ela foi inventada pelo homem há alguns milhares de anos atrás e que o cérebro humano não foi feito, necessariamente, para ler e desenvolver. O cérebro humano apresentava a intenção de andar, de se mexer, correr, saltar, como os outros animais. As crianças quando observam outras pessoas a movimentar, pular, produzir sons vocais, essas ações 
são instintivas, já estavam programadas no cérebro. Só que, as pessoas não aprendem a ler olhando, ou ao imitar outras pessoas lendo. A maioria das pessoas precisam ser ensinadas a ler. E a palavra não tem que ser memorizada, tem que ser decodificada. 
    Há milhares de anos atrás o homem inventou uma outra forma de comunicação que não fosse o som, a música, a dança e o movimento. Inventou a escrita, inicialmente com figuras depois com letras. 



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Como tudo começou...

Observa-se  a cada ano o aumento significativo dos casos de alunos que apresentam dificuldade específica em leitura e escrita. Eu estava trabalhando com clínica psicopedagógica (já há onze anos), quando fui chamada pelo Dr. Sérgio Antoniuk, renomado neuropediatra de Curitiba/PR, a participar de um grupo de multiplicadores da metodologia Panlexia, da autora e educadora inglesa Pamela Kvilekval.

Inicialmente o Método Panlexia recebeu influências do professor Leonard Bloomfield, que, como tinha um filho disléxico e sendo professor de linguística da Yale University, trabalhou uma abordagem pedagógica que chamou de Linguística Estruturada (1933). Este método também sofreu grande influência de estudos e pesquisas realizadas pelo Dr. Jesse Williams Grimes, nas Escolas Públicas de Andover, em Massachusetts (1968). Filho e neto de disléxicos criou um Programa para Dificuldades de Aprendizagem. Após dois anos como sua assistente e supervisora do curso de instrução terapêutica, (onde acompanhou mais de duzentos disléxicos), Pamela passou a aplicar o conhecimento e a experiência adquiridos com ele vindo a desenvolver o seu  próprio Programa. 

Constituindo uma vasta experiência nos EUA, Pamela Kvilekval (autora do método Panlexia) tornou-se, desde 1986, consultora em escolas internacionais na Itália e supervisora de ensino diferencial para estudantes disléxicos. Muitos médicos italianos encaminham crianças disléxicas para serem acompanhadas por Pamela por não existir na Itália programas pedagógicos especializados em Dislexia, consequentemente, ela desafiou-se a construir esse programa de ensino também
 idioma italiano.

Em Julho/2004, tivemos o privilégio de tê-la aqui no Brasil para repassar sua experiência, onde também construiu o seu programa dentro da base estrutural linguística do português (Brasil). Desde a formação comecei a aplicar seu método na clínica psicopedagógica e observei resultados muito rápidos e consistentes com o seu programa. Iniciei um levantamento dos atendimentos em Panlexia na clínica, observando a reação e aceitação dos alunos diante do método. Os resultados desta pesquisa, apontaram para algumas complementações, passei a realizar as atividades do programa dentro de uma leitura psicopedagógica e psicomotora. A própria autora nos orientou e incentivou  a realizar adaptações necessárias de acordo com a nossa realidade e cultura brasileira. 


Esta pesquisa culminou na apresentação oral de caso no XIX Congresso Anual e XXIII Curso de Pós graduação da Academia Iberoamericano de Neurologia Pediátrica, em Buenos Aires, em Outubro/2011. Atualmente realizo cursos para repasse da metodologia com a abordagem psicopedagógica para profissionais da área de Educação, de áreas afins e pais interessados em auxiliar seus filhos que apresentam dificuldades nessa área e desejam uma alternativa para amenizar ou até mesmo solucionar esse problema.